quinta-feira, 28 de junho de 2018

CALVINISMO COMO EXAGERO DE UMA METÁFORA


O calvinismo, como sistema teológico baseia-se num equivoco de leitura, um erro na interpretação da metáfora bíblica. O erro é o de tomar uma palavra carregada de significado figurado e simbólico e tomá-la como termo técnico teológico, definido, estreito, unívoco e quase “cirúrgico” ao descrever as ações de Deus.

O termo "predestinação" ocorre na Bíblia em vários momentos, mas os sistemas teológicos se apropriam dele indevidamente.

(1) A teologia calvinista, formulada por João Calvino, que influencia a maior parte das igrejas evangélicas, ensina que Deus predestina uns para a salvação e outros para a perdição pela decisão ou decreto soberanos de Deus. Ou seja, não depende do homem, mas só de Deus. Só os eleitos, predestinados serão salvos e os outros, por exclusão, são condenados ao inferno sem chance de se converterem.

Este ponto de vista é baseado em alguns textos que parecem ensinar isto, mas que contradizem o fato que Deus ama todo o mundo (Jo 3.16). Se a doutrina da predestinação, como interpretada pelos calvinistas, fosse correta, Deus só amaria os eleitos e nunca o mundo.

(2) Existem os arminianos, que seguem Jacob Armínio, que ensinam que a eleição divina, ou seja, a predestinação, baseia-se na pre-conhecimento ou presciência de Deus: ele sabe quem vai se converter, logo, elege e predestina estes para a vida eterna. Este ponto de vista tenta afirmar que a predestinação não é um ato arbitrário de Deus, mas fruto do fato dele saber o futuro.

Claro que Deus sabe de tudo, mas também este saber divino nunca é usado, na Bíblia, como escusa ou desculpa para a desobediência humana - os que se perdem são condenados por justiça e tiveram a mesma chance que todos os outros - todos foram amados por Deus e Cristo morreu por todos. A solução do arminianismo, embora mais aceitável, também, acaba por negar o que a Bíblia enfatiza sobre a decisão humana diante de Deus.

(3) Estas posturas teológicas da "predestinação", "eleição" etc. são difíceis, pois a linguagem figurada da Escritura, usando os termos acima, extrapola o seu uso metafórico e tanta fazer dele um uso técnico e todo abrangente.

Os dois pontos de vista, calvinista e arminiano, são equivocados.

A ideia bíblica de “predestinação” é uma ilustração, uma metáfora bíblica que não pode ser levada além de certo ponto. Metáfora está mais para a poesia e a arte do que para o texto jurídico e para o termo técnico.

Predestinação é uma metáfora ou uma figura que indica que a ação de salvação não foi feita por improviso, mas que Deus em sua eterna sabedoria e amor, predeterminou todos os meios para a salvação do homem: mesmo sabendo que ele pecaria, ele insistiu em seu plano, pois já planejava salvar todos.

A metáfora da predestinação e eleição, em conjunto, falam de Deus tomando a iniciativa para nos salvar. A salvação procede dele e nunca dos homens.  Assim, nossa salvação ocorre por sua iniciativa única, ou seja, por sua graça, a ênfase está na ação divina: o homem não se salva - é Deus quem salva o homem.

A ênfase é esta: predestinação e eleição indicam que nossa salvação é algo que vem de Deus mesmo e que Deus já planejou e que não se trata de um “tapa-buraco”, mas, sim, de um plano bem engendrado desde a eternidade.

(4) Ora, se a predestinação é uma metáfora, não podemos exagerar e ir além de um certo ponto para não estragar a metáfora.

Vou mostrar isto por um exemplo: No Salmo 23 lemos que “O Senhor é o meu pastor” - ora, isto significa que Deus cuida de nós. É uma metáfora: a palavra pastor é utilizada fora do contexto das ovelhas para se aplicar a pessoas e o sentido é que Deus cuida de nós.

Agora, se eu continuar e EXAGERAR a metáfora, eu observaria que certos pastores de ovelhas matam as ovelhas para comer, bebem leite do rebanho e também lucram com a pele das ovelhas. Ora, se eu transferir isto para Deus, será que Deus se alimenta de nós, nos mata, ou arranca nossa pele ou ganha algo em cima de nós? Claro que não. O erro deste raciocínio é que eu fui além do que devia na metáfora do pastor: ela significa apenas que Deus cuida de nós, mas não significa que Deus comercializa as pessoas ou faz mal para elas para lucrar. O erro foi um EXAGERO do uso da metáfora do pastor.

Da mesmo forma a Bíblia fala, metaforicamente, que Deus é nosso Pai. Ora, isto só quer dizer que ele cuida e ama cada um de nós como se fossemos filhos. Agora se eu EXAGERASSE o uso da metáfora, eu perguntaria: Então quem é o nosso Avô ou nosso Tio… ou ainda, se Deus é nosso Pai, que é a nossa Mãe? Enfim, o erro foi não parar no ponto certo com a metáfora de Pai: é para entender só no sentido de Deus cuidar e amar. Nunca é para ir adiante na metáfora e dizer que Deus sendo Pai deve ter uma família com esposa, pais e irmãos dele.

Concluindo. Pegar a palavra “predestinação” ou “eleição”  e EXAGERAR a metáfora dizendo que Deus determina tudo e não deixa nenhuma decisão para os homens é um erro. Outros lugares da Bíblia diz que os homens pecam por saberem fazer o bem e não o realizarem. A Bíblia fala dos homens tendo “vontade” (que os modernos chamam de “livre-árbítrio”), logo, se fazem sua vontade, são seres livres. Então, não podemos dizer que a “predestinação” retire a vontade dos homens. A palavra apenas afirma que o plano de Deus para nos salvar é eterno e que desde a eternidade ele sabia que pecaríamos, mas que iria nos salvar. Logo, a metáfora é sobre a grandeza da salvação e não sobre a limitação da mesma…

Calvinismo é o exagero de uma metáfora… é um erro.

Álvaro C. Pestana
alvarocpestana@gmail.com