TUCA – o retrato da graça
Álvaro César Pestana
05 de Maio de 2011
Por que os vulcões entram em erupção? Quem responder
baseado na geologia ou nas teorias das placas tectônicas descreve um lado muito
simplista da realidade.
Para mim, os vulcões são erupcionados para proteger e
abençoar o povo de Deus. Sendo mais específico, o Eijafjallajojkull entrou em erupção em abril de 2010 para que eu e
minha esposa não fizéssemos nossa planejada e anelada viajem para Paris,
França.
O que? E isto é bênção?
Bem, pode parecer que não, mas era bênção sobre bênção. No momento que
tudo ocorreu, não entendemos bem, mas levamos em conta a possibilidade de Deus
estar nos abençoando e, com isto, ficamos contentes.
Aproveitamos os dias para passear pela cidade que
estava particularmente agradável. O resultado foi a “Tuca”, uma cachorrinha da
raça Blue Healer que encontramos e compramos.
Ela foi uma alegria e uma compensação pela “não
viagem” – mal sabíamos as razões da ação divina sobre os vulcões.
Com o tempo, contudo, a Tuca foi revelando-se uma
cachorra terrível: não era educada como nossa outra cachorra, a Cindi, pelo
contrário... ela era o contrário!
Tuca fazia bagunça, entrava em casa quando não
estávamos olhando, fazia sua sujeira em todo lugar possível e imaginável – um
dia, fez dentro do seu próprio prato!
Ela não parava de latir e perturbar a Cindi. Um dia,
rasgou um saco de ração e comeu tanto que parecia uma pequena mula de carga
carregada. Comia o que não devia e vivia ativamente envolvida em “destruir”.
Quando soltava gazes, o que não era incomum, quase
intoxicava todos os presentes. Um dia, demos uma festa em casa e precisamos
deixar a Tuca “a favor do vento” para não assustar os convidados!
Ela fazia tudo errado... não recolhia a língua e nem
sabia beber água direito, sempre vomitava um pouquinho no final... mas mesmo
assim, amávamos a Tuca.
Linda pensou: “É o retrato da graça!” Sim, Tuca era
para nós o que nós devemos ser para Deus: imprestáveis mas amados. Era fácil
identificar-se com a Tuca. Seu olhar parecia uma pergunta que não conseguia ser
formulada...
Bem, Tuca nos distraiu e ocupou de maio a outubro,
quando fui despedido sumariamente e sem qualquer cuidado humano – nenhum
pagamento ou ajuda financeira.
Foi então que percebemos que o vulcão erupcionou para
que não gastássemos aquele dinheiro na viagem, pois iríamos ser despedidos sem
qualquer misericórdia humana dali a seis meses.
Foi então que a Tuca ficou doente: pneumonia e
complicações! Parecia que ela não ia resistir.
Que fazer? “Acabo de ser despedido com completa
omissão dos direitos trabalhistas e agora vou gastar dinheiro com um cachorro?”
Sim, gastamos. Não poderia fazer com ela o que estavam fazendo comigo: não se
abandona alguém com quem se conviveu.
Gastamos com a Tuca e ela
sobreviveu. Ficou boa de novo e nos deu alegria de pensar que nós também
sobreviveríamos. Ela era o nosso retrato da graça!
Passou-se um tempo e
apareceram sérios problemas nas extremidades da Tuca. Tratamos de todo jeito...
descobrimos que ela deveria ter tido cinomose ou alguma doença séria quando
pequena, mas, valente, sobreviveu (com algumas sequelas).
Agora contudo, a
leishmaniose tinha se instalado nela e não havia mais jeito. Levamos Tuca para
o CCZ e acreditamos que a Nave Mãe deve ter vindo busca-la na hora certa.
Ela ficou conosco por um
ano apenas. Um ano de consolo, um ano de aprendizado da graça, um ano de
compreensão da bondade de Deus e um ano de vitória contra a adversidade.
Tuca foi embora, mas fica
no nosso coração...
Se Lewis estiver certo[1],
então, assim como nós seremos ressurretos “em Cristo”, é possível que a Tuca
seja ressurreta “em nós”. Só não sei os céus aguentarão isto.
*****
TUCA – o retrato da graça.
15/12/2009
– 05/05/2011