terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Todos pecaram...

Todos pecaram...
Álvaro C. Pestana
2018

Não foi só Davi e Bate-Seba que pecaram naquela tarde…

Os conselheiros, cortesãos e até mesmo os empregados do palácio pecaram…

Pecaram por não dizer: “Meu rei… isto não está certo!”
Pecaram por não lembrar a Davi: “Meu senhor, tu já tens várias esposas!”
Pecaram por não recitar a lei: “Está escrito: Não adulterarás!”

Não houve uma pessoa de bem para protestar contra o pecado que se ensaiava…

Os que tomaram qualquer conhecimento do que ia ocorrer pecaram…

Os que não quiseram pensar no assunto e se desviaram da situação, pecaram...

Pecaram por omissão… por autopreservação… por medo do poder… por covardia.
Pecaram por não posicionar-se diante da prepotência, da arrogância, do egoísmo, da traição e da falta de temor a Deus…
Pecaram por obedecer ao rei e ir até a casa de Bate-Seba, chamar uma mulher casada para o leito de seu rei. 
Pecaram por obedecer ao rei…

Os que de qualquer forma contribuíram para a ação de Davi, pecaram…

Pecaram por arrumar os lençóis do quarto… 
Pecaram por receber Bate-Seba no palácio… 
Pecaram por ficar em silêncio… 
Pecaram por não impedirem o mal que se delineava diante de seus olhos… 
Pecaram por não pensar em Deus ou em Urias… 
Pecaram por pensar só em si mesmos e em seus projetos pessoais egoístas…

Os que fecharam os olhos, os ouvidos, as cortinas e as portas, pecaram…

Pecaram, talvez, por conta de seus profundos desejos reprimidos… por voyerismo… por imaginar-se pecando também no pecado de seu rei… 
Pecaram por imaginar a iniquidade como coisa boa… como se fosse um entretenimento…

Pecaram por preferir a fofoca e o comentário de bastidores depois do pecado do que o enfrentamento corajoso da situação, antes que acontecesse. 

Pecaram por “deixar rolar’’… pecaram por “não ser de sua conta” e por “não ter nada a ver comigo”…
Pecaram por não defender o direito do mais fraco, do ausente, do que não tinha voz, Urias… 
Pecaram por não dizer: “Não!”, por não alçarem a voz pelo direito, pela verdade, pela justiça, pela lei.

Os que apoiaram ou incentivaram o rei, certamente, pecaram…

Pecaram, talvez, por pensar que um rei tem o direito de fazer o que quer… 
Pecaram por pensar: “O rei é a lei!”

Pecaram, talvez, por justificar o pecado, afinal, Urias era um estrangeiro, um hitita, um antigo inimigo do povo de Deus… 

Pecaram, talvez, por legalizar o pecado, afinal, Bate-Seba era filha de um israelita, e não devia ter se casado com um estrangeiro…

Pecaram, talvez, por culpar Urias pelo pecado que ocorreria: “Onde está o marido desta mulher?” Ou ainda dizer: “Quem não cuida, perde!” 

Pecaram por desejar o mal a um homem de bem.

Houve muito pecado, naquela tarde em Jerusalém…

Omissão continua sendo pecado que possibilita muitos outros pecados…


A menina com o seu bebê

A menina com o seu bebê
Álvaro C. Pestana
2018

Caminhando pela ampla calçada de uma larga avenida de Jaboatão dos Guararapes, PE, não pude deixar de notar, na mesma calçada e em sentido contrário, uma jovem mãe que carregava seu bebê. Era evidente que ela era muito jovem, menor de idade, talvez, quando muito, com uns 16 anos… 

Ela passou com seu bebê no colo, aninhado num daqueles “cangurus” que seguram a criança junto ao seu corpo. Observei-a discretamente e meditei no quadro que ficou impresso em minha mente naquele rápido cruzamento entre transeuntes. 

Eu nada sabia sobre ela e creio que nem saberei... afinal, ela, simplesmente, passou por ali e se foi.

Mas, eu fiquei a pensar: muito jovem para ter uma criança!! Casou-se? Foi um descuido? Muitas perguntas, talvez, sem fundamento e, certamente,  sem respostas. Porém, o fato é que ela tinha uma criança, e este pensamento superava todos os outros em minha mente: ela tinha uma criança

Ela tinha, possuíaalgo que não existia antes! Ela parecia ser uma mocinha pobre: levando em conta aquele jeito simples de se vestir e andar, sua solidão, sua aparente falta de recursos e segurança. Andava naquela avenida sem indicar estar se dirigindo ao seu carro... parecia ser alguém que anda de ônibus. Não ostentava os claros sinais de poder de nossa sociedade: tinha o jeito de pessoa pobre que é desprovida.

Pobre já nasce desprovido e experimenta, a todo instante, a privação real e divulgada pelas mídias que só valorizam as pessoas que têm algo a mais. Bem, aquela mocinha podia ser do tipo que não tem nada, só que agora, ela tem uma criança em suas mãos, ela é mãe e sua vida tem um novo sentido

Enfim… pode ser que tudo isto só exista em minha cabeça e só tenha a ver comigo e com minha visão sobre ter e ser... fiquei tocado com a possibilidade dela possuir algo que veio “do nada”, mas que preenche totalmente uma vida... ela tinha uma criança.