Todos pecaram...
Álvaro C. Pestana
2018
Não foi só Davi e Bate-Seba que pecaram naquela tarde…
Os conselheiros, cortesãos e até mesmo os empregados do palácio pecaram…
Pecaram por não dizer: “Meu rei… isto não está certo!”
Pecaram por não lembrar a Davi: “Meu senhor, tu já tens várias esposas!”
Pecaram por não recitar a lei: “Está escrito: Não adulterarás!”
Não houve uma pessoa de bem para protestar contra o pecado que se ensaiava…
Os que tomaram qualquer conhecimento do que ia ocorrer pecaram…
Os que não quiseram pensar no assunto e se desviaram da situação, pecaram...
Pecaram por omissão… por autopreservação… por medo do poder… por covardia.
Pecaram por não posicionar-se diante da prepotência, da arrogância, do egoísmo, da traição e da falta de temor a Deus…
Pecaram por obedecer ao rei e ir até a casa de Bate-Seba, chamar uma mulher casada para o leito de seu rei.
Pecaram por obedecer ao rei…
Os que de qualquer forma contribuíram para a ação de Davi, pecaram…
Pecaram por arrumar os lençóis do quarto…
Pecaram por receber Bate-Seba no palácio…
Pecaram por ficar em silêncio…
Pecaram por não impedirem o mal que se delineava diante de seus olhos…
Pecaram por não pensar em Deus ou em Urias…
Pecaram por pensar só em si mesmos e em seus projetos pessoais egoístas…
Os que fecharam os olhos, os ouvidos, as cortinas e as portas, pecaram…
Pecaram, talvez, por conta de seus profundos desejos reprimidos… por voyerismo… por imaginar-se pecando também no pecado de seu rei…
Pecaram por imaginar a iniquidade como coisa boa… como se fosse um entretenimento…
Pecaram por preferir a fofoca e o comentário de bastidores depois do pecado do que o enfrentamento corajoso da situação, antes que acontecesse.
Pecaram por “deixar rolar’’… pecaram por “não ser de sua conta” e por “não ter nada a ver comigo”…
Pecaram por não defender o direito do mais fraco, do ausente, do que não tinha voz, Urias…
Pecaram por não dizer: “Não!”, por não alçarem a voz pelo direito, pela verdade, pela justiça, pela lei.
Os que apoiaram ou incentivaram o rei, certamente, pecaram…
Pecaram, talvez, por pensar que um rei tem o direito de fazer o que quer…
Pecaram por pensar: “O rei é a lei!”
Pecaram, talvez, por justificar o pecado, afinal, Urias era um estrangeiro, um hitita, um antigo inimigo do povo de Deus…
Pecaram, talvez, por legalizar o pecado, afinal, Bate-Seba era filha de um israelita, e não devia ter se casado com um estrangeiro…
Pecaram, talvez, por culpar Urias pelo pecado que ocorreria: “Onde está o marido desta mulher?” Ou ainda dizer: “Quem não cuida, perde!”
Pecaram por desejar o mal a um homem de bem.
Houve muito pecado, naquela tarde em Jerusalém…
Omissão continua sendo pecado que possibilita muitos outros pecados…